COISAS DO FUTEBOL: Meia escanteado no Náutico, hoje marca Messi e Cristiano Ronaldo

galomonteirense | sexta-feira, maio 04, 2012 |

O garoto João Victor era visto como uma grande promessa no Náutico. Com apenas 15 anos, foi convocado para a seleção brasileira Sub-17, em 2004, e profissionalizou-se no ano seguinte.

Como vários outros jogadores que começam a carreira em um dos três times da capital, penaram pela falta de continuidade na equipe. "Se a gente jogasse e não fosse bem, ou se o time perdesse, afastavam a gente. Só jogávamos mesmo no início do campeonato, quando os contratados estavam entrando em forma", comenta o jogador que hoje é volante do Mallorca, em sua segunda temporada na Liga Espanhola, a mais badalada do mundo. 

Seu caminho até a cidade de Palma de Mallorca foi trilhado longe dos Aflitos, de onde partiu aos 18 anos liberado pela Justiça porque o clube lhe devia salários. João Victor — que é filho do ex-goleiro Flávio (ex-Sport, campeão brasileiro em 1987 pelo Leão) — passou por São Caetano-SP, Treze-PB e Mogi Mirim-SP, onde obteve o contato com o pentacampeão do mundo Rivaldo, que foi importantíssimo para a sua ida para a Espanha. 

Não sem antes passar pelo Bunyodkor, do longínquo Usbequestão, onde o veterano atacante atuava. Em entrevista ao Blog do Torcedor/NE10, o jogador cornetou a arbitragem da Espanha, falou da sua relação com Rivaldo, admitiu que jogou pouco na atual temporada e revelou que gostaria de, um dia, defender o Sport, como seu pai defendeu.

Ficha do jogador
Nome: João Victor de Albuquerque Bruno
Posição: Volante
Data de nascimento: 7 de novembro de 1988 (23 anos)
Local de nascimento: Olinda, Pernambuco, Brasil
Clube: Mallorca.
Clubes anteriores: Náutico, São Caetano-SP, Treze-PB, Mogi Mirim-SP e Bunyodkor (Usbequistão).
Seleção de base que jogou: Seleção sub-17 (2004)

Veja a entrevista com João Victor

Quando exatamente você chegou ao Náutico e quanto tempo ficou? Qual foi a importância desse período para você?
 
Eu cheguei em 2004. Subi para o profissional em 2005, com 16 anos. Fiquei até meados de 2007. Minha estreia no profissional foi em 2005 contra o São Raimudo, na Série B, em Manaus.

Como foi a sua saída do Náutico? Você se julga mal-aproveitado?

Para mim o Náutico perdeu uma grande oportunidade de ganhar dinheiro com a geração que teve. Betinho, Diego, Tiago Laranjeira, Breno, Sandro Manoel, todos tinham muito talento. É uma equipe que surgiu muito boa na base, e praticamente todos saíram sem o Náutico ganhar nada. Naquela época, a gente jogava um jogo e, se fosse mais ou menos ou o time perdesse, acabavam afastando a gente. A gente só tinha chance no início do campeonato quando os contratados estavam fora de forma. Depois que eles entravam, sacavam a gente. Faltava de continuidade. É o que eu acho.

Você foi um dos que saiu sem que o Náutico ganhasse nada.

Isso. Eu saí do Náutico, na verdade, na Justiça. Eu não tava feliz e, como eles me deviam, eu botei na Justiça e consegui meus direitos. Mas eu não tenho mágoa nenhuma, acompanho bastante o Náutico e o futebol pernambucano. Busco na internet, às vezes vejo um jogo na televisão internacional. E meu pai [Flávio, ex-goleiro do Sport] me fala muito do campeonato daí.

A sua trajetória de clubes foi longa até chegar ao Mallorca. Você pode resumir?

Saí no meio de 2007, depois fui para o Sao Caetano e fiquei um ano. Mas não tava feliz lá e pedi para sair porque não tava sendo aproveitado. Aí fui para o Treze, fiquei 4 ou 5 meses. No Mogi Mirim, fiquei uma semana e fui para o Usbequistão. Foi através do advogado de Rivaldo que eu fui convidado.

Você começou como meia, mas hoje joga de volante. Aprendeu a ser polivalente no futebol europeu?

Realmente, hoje eu estou mais como volante defensivo, já joguei de zagueiro, de lateral, de tudo. Mas já tinha começado a jogar como volante no Treze, no Brasil. Lógico que fui me aprimorando. Também foi importante o período no Bunyodkor, pois ouvia muito as dicas de Rivaldo sobre como se jogava nos principais campeonatos da Europa.


Foi difícil para convencer você a ir para o Usbequistão? Qual foi a importância para o seu desenvolvimento?

Na verdade, não precisou de muito esforço. Eu estava no Mogi Mirim, o Rivaldo tava lá no Bunyodkor, e eu não pensei muito. Fui. Ganhamos dois campeonatos nacionais e uma Copa do Usbequistão. O maior aprendizado foi ter trabalhado com Rivaldo e virado amigo de Rivaldo, tanto como pessoa quanto como jogador.

Como surgiu a oportunidade de ir para a Espanha?

Através do Rivaldo também, ele conhece o vice-presidente do Mallorca [Serra Ferrer], que foi treinador dele na Grécia. Como a gente tava numa situação difícil em relação a pagamentos, a gente pediu para sair e surgiu a oportunidade de ir para lá. Fomos eu e o Edson Ratinho, lateral-direito. Ele tem contrato com o clube, mas tá emprestado par ao Mogi Mirim, o time do Rivaldo.

Depois daquele início no Náutico, você imaginava chegar com apenas 21 anos à primeira divisão espanhola?

A gente sabe que, no futebol, as coisas acontecem muito rápido. Eu sempre tive pés no chão e acreditei no meu trabalho. Mas reconheço que foi uma surpresa para mim. No Náutico, atrapalhava o fato de não manterem a gente jogando. A gente vê o caso de Willian e de Lulinha que começaram no Corinthians, eles fizeram vários jogos, tinham continuidade. Se a gente não ia bem ou não vencia, não jogava mais no Náutico

No Mallorca, você fez mais jogos na primeira temporada do que na segunda, a que se deve isso?

Teve uma troca de treinador agora. Era o Michael Laudrup e chegou o Joaquim Caparrós por causa de resultados ruins no início do campeonato. E aí o cara que chegou não tá me colocando muito para jogar, é mais isso mesmo. Caparrós já foi do Sevilla, do Bilbao, é um bom treinador. Não sei porque estou com menos oportunidades. Tem treinador que gosta de você, tem treinador que não gosta. Futebol é assim.

Já recebeu propostas para voltar ao Brasil?

Não, ninguém nunca fez contato comigo, não.

Até quando vai seu contrato?

2015. Aparecem coisas para a próxima temporada, mas nada em concreto.

Como foi a adaptação ao estilo espanhol?

Tive que mudar bastante meu estilo de jogo, só que o Rivaldo já dava bastante conselhos à gente, alguns toques. Eu gostava muito de conduzir a bola, agora eu quase não conduzo a bola. Se você jogar bola na Europa não é muito bem visto conduzir, é mais de toque rápido, passe rápido.

Como você avalia o seu momento profissional?

Esse ano eu joguei muito pouco, foi um ano ruim para mim. Foi bom porque a equipe foi bem, se salvou, não teve sufoco para rebiaxamento. Tamos brigando pela Uefa Europa League. Mas individualmente não foi bom para mim, não. Os jogos que eu joguei, na minha opinião, eu fui bem, só que eu joguei pouco.

Em algumas fotos, você é visto marcando Messi e Cristiano Ronaldo. Já fez marcação individual alguma vez neles? Como é enfrentar os maiores jogadores do mundo?

Nunca, não, aqui não tem isso, o futebol aqui já é muito tático. Nunca me pediram marcação individual com ninguém.

Como avalia seu desempenho nas partidas contra Barcelona e Real Madrid?

Sim, eu joguei esse ano contra os dois. Acho que o meu melhor jogo desse ano foi contra o Real Madrid e contra o Atlético Bilbao. Contra o Real, a gente tava melhor no jogo, no finzinho eles viraram. A arbitragem prejudicou a gente.
Como é a arbitragem na Espanha?

É horrível, porque eles nunca apitam certo. Todos os times se queixam, e não é isso de roubo, é que os árbitros são muito ruins, influem muito nos resultados dos jogos. Todos os jogadores que já jogaram na Espanha dizem que a arbitragem é bastante ruim.

Pelo que você se lembra, dá para comparar com a arbitragem de Pernambuco?

Eu já não me lembro bem para comparar.

Como é a sua vida fora do futebol em Palma de Mallorca? Conte um pouco da sua rotina, suas atividades fora de campo. É reconhecido nas ruas?

É uma ilha bem grande, não parece ser uma ilha, não. Todo lugar que você gira é praia, tem praias bem bonitas aqui, não tem muito o que fazer aqui não. Aqui não tem esse sistema de shopping para passear. A gente fica muito em casa também e vai bastante à igreja. Eu sou evangélico e minha esposa é evangélica também. Fico muito em casa com minha esposa e meu filho, a gente dá uma volta, leva aos parques para brincar. À noite a gente sai para cinema para jantar. Estou comendo bem, mas a gente gosta bastante da comida brasileira, tem uma brasileira trabalhando para a gente. Reconhecido nas ruas, um pouco, a torcida não é muito fanática. Eu me sinto feliz aqui. Agora eu tou doido para ir de férias, tou feliz, graças a Deus. Vou para o Recife. Quando eu me aposentar, eu quero voltar para o Recife também. Mas agora eu não quero sair.

E no Usbequistão, o que lhe acrescentou a vivência por lá?

Foi um período legal, uma experiência bem diferente, gostei bastante. Fiquei um ano e meio lá, foi uma cultura diferente. É um país fechado, um país que não tem classe média, ou é pobre ou muito rico. Não tinha nada para fazer. Era mais um contato da gente com os outros jogadores que estavam lá. A gente ficava muito na internet. A minha esposa [Marina] me ajudou bastante também. Ela me acompanha desde que eu fui para o São Caetano. Casamos há quatro anos e agora eu tenho um filho de um ano e um mês, João Pedro, espanhol.

Até o semblante do jogador mudou 

Por ter jogado pouco este ano, você acha que o Mallorca pode emprestá-lo na próxima temporada?

Bom, eles que têm que tomar uma providência. Se não contarem comigo, têm que arrumar um time para mim. Eu quero continuar na Europa, a não ser que exista uma proposta muito boa de outro lugar. Jogador tem que pensar primeiro no lado econômico.

Em que outro time ou campeonato você se imagina jogando?

Gostaria de jogar na Italiana, acho que combina mais com o meu estilo. Eu sempre tive um sonho de jogar na liga italiana, desde criança.

Você pensa em voltar um dia para o futebol pernambucano?

No final da minha carreira, eu gostaria de jogar no Sport, porque, como meu pai jogou no Sport, ele tem essa vontade, embora ele nunca tenha me pedido diretamente.

Qual o seu sonho neste momento?

É aquele negócio, eu quero jogar mais. Você, sem jogar, não pode nem imaginar muita coisa. Jogando, você pode pensar em ir para um time maior. Se fizer uma grande campanha, você pode imaginar que possa ter uma chance na seleção. Aqui na Espanha, você faz uma boa temporada, e tá todo mundo vendo, e aparecem oportunidades. Você vê Jonas no Valência, que está na seleção. Tenho vontade de jogar no futebol italiano também. A seleção é um sonho para mim, claro.

Category: